quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Instável!

Definitivamente, a vida de gente grande não é fácil. A gente passa infância e adolescência inteiras torcendo para que chegue a vida adulta, mas quando chegamos aqui desejamos ardentemente poder ter a simplicidade da infância, tudo é tão mais fácil, os maiores problemas são as notas da escola ou os colegas insuportáveis.
Hoje, mesmo não sendo tão adulta assim eu sinto a cada dia a seriedade da vida, a dureza de dias que perderam as brincadeiras, os banhos no quintal, os domingos na casa dos avôs, os passeios da escola, e tantas outras coisas que um dia tornaram a vida mais leve.
A mesmice de dias que outrora tão indesejada, hoje, às vezes se torna necessária. Quando acontecimentos sérios demais chegam a tomar a leveza, a normalidade, a levar a paz e a sensação de estabilidade, eu queria poder me esconder na simplicidade da infância. Talvez essa seja a palavra: estabilidade. Isso é o que se perde totalmente na adolescência. Até então tudo parece ser eterno: o carinho dos pais, os “velhos”, mas não tão velhos amigos de infância, o se dar bem na escola, a simplicidade das escolhas, etc. O chão é bem mais firme.
Hoje parece que tudo está bem mais propenso a mudar de uma hora pra outra, o seu mundo pode ruir a qualquer instante. De uma hora para outra você já não tem um grande amigo, ele se foi, mesmo que o telefone dele continue no seu celular, você nunca mais poderá escutar sua voz.
Quando você cresce, invés de estudar matemática, português, história e tal, você tem que escolher uma coisa só, e o pior, terá agüentar a inveja e o arrependimento de ver gente que está onde você queria estar, mas você não chegou lá, talvez por escolher errado, talvez por incompetência (pra você, porque na verdade, todo mundo sabe que aquilo é coisa pra “gênio”).
Depois que a gente cresce, os amores duram mais, às vezes podem ser intermináveis, imortais (só eles são imortais, a gente morre por causa deles). A memória, para os amores, fica indestrutível. E o mais interessante: sempre aparece alguém que todo mundo (e até seu bom senso) diz que “seria perfeito”, mas (ah na vida adulta, tem sempre um mais) ele não é como o seu amor.
Dizem que crianças são medrosas, mas sinceramente, eu preferia meu medo da loira do banheiro, ao medo idiota que tenho hoje de nunca conseguir ser amada por ele. Adultos, sim são medrosos, medo do desemprego, medo de não passar no vestibular ou no concurso, medo de não amar, medo de amar demais, medo de não ser amado, medo de ter filho, medo de não ter filho, medo de adoecer...
Tudo isso, sem falar nas cobranças, na verdade, ninguém nunca está satisfeito com você, não importa o que você faça, sempre vai haver alguém pra te reprovar. Todo mundo sempre te cobra entrar numa boa faculdade, quando você entra o curso é fraco, os salários são baixos, a faculdade é particular (todo mundo passa, não tem nome) ou é pública (desorganizada, nunca tem aula). Na verdade, você tem que descobrir bem cedo quem você é, o que você quer e o quanto quer, aí fica mais fácil de enfrentar o mundo, mas a má notícia é que isso é tão complicado às vezes.
É engraçado como até a adolescência, a gente tem a impressão que tudo é pra sempre, parece que nossos amigos estarão ali eternamente, brigas mesmo recorrentes são tão contornáveis. Mas quanto mais o tempo passa mais difícil fica conservar amigos: são mais sapos a engolir; cabeças bagunçadas (muitas vezes até mais que a sua) pra tentar entender; defeitos que você tem que perdoar; ações que te entristecem, mas você tem que saber que aquilo talvez não tenha significado nada pra ele ou ela; amizade que vira paixão; paixão que virá só amizade; e o pior, parece que todo dia tem alguém dizendo “adeus”. Todo ano alguém entra na faculdade e, é claro, longe daqui; de vez em quando alguém arruma um emprego na “baixa funda”; algumas amizades simplesmente se perdem no tempo,e você tem que, simplesmente, se conformar, aquela pessoa presente em todas as suas fotos antigas, agora nem fala contigo quando te vê pelas ruas; outras presente em tuas festas e fotos nem tão antigas assim agora nem tem mais teu telefone; pessoas que um dia você pensou que morreria se não pudesse falar com ela pelo menos uma vez na semana, agora você passa de mês sem ver e mal percebe.

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